quinta-feira, 7 de junho de 2012

O bálsamo das flores

"O campo era um terreno abandonado. Os restos de uma casa antiga, há tempos transformados em ruínas, ocupavam a parte de trás do campo. As flores talvez tenham sido a última geração de plantas perenes, cujos ancestrais foram plantados pela primeira vez por uma mulher que viveu nas ruínas quando elas eram uma casa sem pintura, em estado bruto, habitada por ela e por uma marido sério, que fumava, e talvez por duas filhas sérias e silenciosas. As flores eram um ato de resistência contra o terreno bruto e nu, onde a casa bruta erguia-se da terra bruta. Como num desvario inevitável e necessário, porque os seres humanos têm de viver em algum lugar e em alguma coisa. [...] Portanto, as flores talvez fossem um bálsamo e, se não um bálsamo, quem sabe um gesto que fizesse as vezes do bálsamo, que ela aplicaria se estivesse em seu poder oferecer consolo." (Paul Harding - Tinkers - A restauração das Horas)