segunda-feira, 4 de outubro de 2010

"Abriga-me debaixo das estrelas..."

Sabes...
O céu é um enorme guarda-chuva com buracos...
só que é tão grande tão grande, que continua
mesmo quando lhe chegamos ao fim.
Mesmo em bicos de pés
não consigo tocar nos seus buracos de luz
a que chamamos estrelas
e o meu corpo é demasiado fraco
para segurar este guarda-chuva que cobre o mundo.
 
Mas o desejo de tocar as estrelas embebe-me os sentidos.
Sonho com o desafio da viagem,
com as aventuras do caminho
e com a vertigem da chegada…
 
Sonho…
Pergunto-me se são as estrelas que estão longe
ou é o meu braço que ficou curto;
se a distância das estrelas está certa
e o tamanho do meu braço
- tal como o meu desejo- errado...
 
Mas lembro-me
que quando corri pelos relvados,
quando subi às árvores ou joguei à bola,
nunca senti o meu corpo pequeno.
Quando compartilhei o lanche contigo,
quando o jogo nos fez rir até chorar,
quando te convidei e tu aceitaste,
quando aprendemos juntos,
quando te ajudei a levantar do chão,
nunca me senti pequeno.
Pensei mesmo, muitas vezes,
que chegava aos buracos do céu...
 
Sei que a minha dimensão é a das coisas que me estão próximas,
é a comunhão do instante, o êxtase do momento.
Vivo a alegria do presente, o aroma fugaz do que é sensível
e a simplicidade sublime da amizade desinteressada.
 
Por isso sei que somos irmãos quando
me perguntas se tenho frio,
abres o guarda-chuva
e trazes as estrelas para a ponta os meus dedos.
(David Rodriges, 2003)